sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Vergonha



Não tenho vergonha da pobreza econômica
da cor da pele e do sobrenome
Tenho vergonha da pobreza de espírito
do racismo
do preconceito
da desinformação
da insalubridade
da desonestidade
da desunião
da submissão

A gente passiva


O cigarro nos fuma.
Ou melhor, somos tragados pelo cigarro.
A bebida nos bebe.
Ou melhor, somos ingeridos pela bebida.
A TV nos controla à distância.
Ou melhor, somos programados pela porra da TV.
O produto nos compra.
Para isso, somos negociados no mercado de trabalho.
A tecnologia nos usa.
Ou melhor, somos usados e descartados pela tecnologia.
O dinheiro nos ganha, nos guia, nos cega
e nos cala...
Ou melhor, somos amordaçados
por amor à grana.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mulher e dinheiro


O que os assalariados querem?
Dinheiro.
O que os traficantes querem?
Dinheiro.
O que os ladrões querem?
Dinheiro.
O que os artistas querem?
Dinheiro.
O que os políticos querem?
Dinheiro.
O que os pastores querem?
Dinheiro.
O que os ricos querem?
Mais dinheiro.

O que Jefferson quer?

Tô de boa, vizinhança


Meu vizinho limpa a sua casa todos os dias
Eu limpo a minha uma vez por quinzena
Ele limpa diariamente porque é trabalhador
Eu limpo menos porque sujo bem menos.

Meu vizinho é muito esforçado e levanta cedo
Para conquistar e manter seu padrão de vida ideal
Eu pareço preguiçoso e acomodado, porque
Preciso de muito menos para viver e sentir-me feliz.

Meu vizinho vive sorrindo a toa
Eu vivo brigando comigo e com o mundo
Às vezes meu vizinho finge que não me conhece
Pois meu vizinho tem um pouco mais a perder.

Meu vizinho aprendeu a ler bem e não lê
Aprendeu a escrever correto e não escreve, não erra
Ou escreve certo e erra na ideia, pois
Aprendeu a pensar como seus pais e avós.

Meu vizinho aprendeu três idiomas
Eu ainda estou tentando entender o português
Meu vizinho não aprendeu a sentir
E não sabe o que o meu poema quer dizer.

Meu vizinho é muito inteligente, como era de se esperar
Pois investiu, estudou e aprendeu o que foi ensinado
Eu não sou tão inteligente, não investi, não estudei,
Mas também estou aprendendo.

Poesia não põe mesa


Acordo cedo para ver o sol se pôr
detrás das casas.

O café da manhã é
a principal refeição da tarde.

Vendo o almoço para comprar a janta,
pois não tenho estômago para jantar o almoço.

Faço versos inúteis
como versos sobre mesa, e me satisfaço.

Choro de barriga cheia e durmo
depois que o sol nasce
detrás da minha casa.