sábado, 29 de março de 2014

As sete maravilhas do meu mundo


É uma maravilha se uma brisa bate
Nas flores e plantas das estampas
E suspende os jardins em seus vestidos.

As aranhas de Nazca em nada me atraem
Sou apaixonado pelo seu traço e
Os seus desenhos são os meus preferidos.

O Farol de Alexandria é insignificante
Perto da sutil transparência em sua blusa
Com os seus mamilos intumescidos.

Eu iria a pé de Salvador ao Rio de Janeiro
Se você estivesse lá a esperar
Com os seus braços para mim estendidos.

Teu corpo é um monumento de mármore
Não digo agora o que faria para visitá-lo
Porque as paredes têm ouvidos.

Por você eu pularia essa grande muralha...
Com cerca eletrificada, lanças afiadas
E cães rottweiler enfurecidos.

Eu trocaria apreciar a Pirâmide de Quéops
Por ver os seus tomara que caia caídos
E, com o busto a mostra, um encabulado “ops!”

segunda-feira, 24 de março de 2014

Jefferson Mota


Jefferson Mota não é moto-taxista
Mas iria até o fim do mundo
Levando certa pessoa na garupa
Jefferson Mota tá no mato sem cachorro
Por isso caça como gato.

Jefferson Mota mata um leão por dia
Mata dois coelhos com uma cajadada só
Mata a cobra e mostra o pau
Mata cachorro a grito.

Jefferson Mota mete medo
Mas também morre de medo...
Jefferson Mota tem uma meta:
Até a morte inventar um mito.

Jefferson Mota quer dar um xeque-mate
Sem nada saber sobre xadrez.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Tartarugas maneirinhas


A Natator depressus só põe ovos na Austrália
E usa as nadadeiras para enterrá-los na areia da praia

A tartaruga-lora não é burra, vive no Golfo do México
E também só sai da água para desovar

A tartaruga-de-couro é um gigante dos mares
E nem precisa vestir gibão para se proteger

A tartaruga-oliva é pequena e boazinha, mas
Fica muito brava quando é chamada de Olívia Palito

A tartaruga-de-pente é legitima e bastante vaidosa
Usa o espelho d’água para se pentear

A tartaruga-amarela é chamada de cabeçuda, mas
É o homem quem insiste em deixar o lixo nas praias

A tartaruga-verde come apenas ervas marinha
Quando está verde de fome come plástico e morre

segunda-feira, 17 de março de 2014

Anatomia de um apaixonado anacrônico


Mais uma linda noite de lua cheia
Que eu dormi com os olhos abertos
E sonhei acordado com a menina
Do cabelo cheio e seios durinhos
Que dariam, cada um, uma mancheia
E acordei com o coração apertado...
E o pau duro.

Lamentei a minha falta de sorte
Notei o meu pé frio ao despertar
Depois de falar com a boca cheia
Na maçã do rosto dela
E pedir que ela tirasse a cara fechada
Enquanto beijava seus lábios finos
E mordia seu queixo duro e insensível.

Confesso que tenho o olho gordo:
Pediria não apenas a mão dela, mas
O corpo todo...
Se eu não fosse um pé duro
Com a mão e a mente aberta
Por onde me transborda a poesia.

Sei que esse sentimento não tem futuro
Mas eu sou miolo mole e cabeça dura
Não resisto quando ela passa com
Graça, inteligência, conteúdo...
O seu cabelo natural, crespo, solto...
Sorriso discreto e olhos graúdos.

Sei também que ás vezes
Eu reclamo de barriga cheia
Pois, ao menos já ganhei sua simpatia
E se ela não quiser mais nada comigo
Não saio totalmente de mãos vazia.

sábado, 15 de março de 2014

Entre aspas


Sonhei com uma linda garota da escola
Pela nona vez em tão pouco tempo
Mas para mim ela nem dá bola - abre aspas
Porque ela é minha amiga - fecha aspas

Por isso escrevo juras nas entrelinhas
E sempre deixo as portas entreabertas
Embora ele nunca esteja na minha - entre aspas
A esperança é a última que morre - entre aspas

She’s the most beautiful - entre aspas
“Quem não soubera que há muitas era nos olhos teus.”
Eu não gosto muito é dos pés dela - entre aspas
Pois sapateiam sobre o meu coração - entre aspas

Eu não sou apaixonado por ela - entre aspas
Seu corpo nem chama atenção - entre aspas
Mas ela tem um belo olhar - entretanto
Há um abismo - entre nós

quinta-feira, 13 de março de 2014

Burlando Mateus


E digo ainda
que é mais difícil um rico entrar no Reino de Deus
do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha.

Jesus, apud Mateus, cap. 19, versículo 24


A vantagem de ser rico é que eles podem
mandar construírem uma agulha colossal,
comprar um camelo bactriano ou dromedário,
contratar um domador para fazê-lo passar
pelo fundo da sua gigantesca agulha, e ter a chance de
negociar um bom pedaço de chão no reino de deus.

Deu zebra


Faço esses versos invocados, indigestos
Carne de pescoço de casuar, em cores azuis
Aconselháveis apenas para os onívoros
Com um estômago de avestruz

Escreverei algumas verdades sangrentas
Sem rodeios, esporas e chapéu de couro
Enquanto monto o olhar por oito segundos
Nas plêiades na constelação de touro

Fiz um pedido a um meteoro cadente:
Que uma gata preta cruze o meu caminho;
Fiz um poema-de-quatro-quadras, contente
Mas continuo sem ela, sem sorte, sozinho

O cavaleiro solitário com o seu cavalo ao lado
Um pegasus puro sangue de poeta
Canto o black, o rabo de cavalo, o encaracolado
Que a amazona do zodíaco ostenta

Ainda pegarei uma espécie felina:
Entre leoas, tigresas, linces... uma pantera...
Usarei poesia como armadilha clandestina
E acariciá-la como a um bichano, quem me dera

Dos seus ideais um poeta nunca desiste
É como um camelo atravessando o deserto
É como um soldado bravo que não deserta
É teimoso, firme e resistente – decerto

O poema é uma ferramenta espetacular
E é com ele que o poeta cutuca
Pois como se diz em um ditado popular
Macaco velho não põe a mão na cumbuca

O poema é um pé de cabra
Uma serra, um segredo, uma combinação
Um grampo de cabelo, um abracadabra
Uma chave mestra para se abrir coração

Nasci com o sol no signo de Áries
Representado por um bravo carneiro
Entre as composições estrelares
Regido por Marte e tido como o pioneiro

Nasci no ano do galo de metal
Vim para botar ordem no galinheiro
O mundo é do tamanho do meu quintal
- Não é fácil ser homem de aço o tempo inteiro

Mas quem foi que veio primeiro! ...
O ovo de chocolate ou o coelho da páscoa?
Na era onde o deus de todos é o dinheiro
A pergunta que não quer calar ecoa

Calar o rugido dos reis e mangangões
É a prova de fé dos profetas
Sair sem um arranhão da cova dos leões
Bem como os sábios, filósofos e poetas

Dentro do restaurante, se der uma veneta
O poeta apanha e escreve num guardanapo
Qualquer coisa sobre gravata borboleta
E as vistosas flores de plástico

Quem com os porcos se mistura...
Também comerá farelo;
Quem com os poetas se aventura...
Também verá em tudo a figura do belo

O filhote da águia, imponente e poderosa
É apenas um filhote playboyzinho
Enquanto o filhote da galinha d’angola
Mesmo fraco, nasce fazendo tudo sozinho

Viver entre feras torna mais difícil
A vida dos sensitivos veado e corço
Que nunca se entregam fácil ao sacrifício
Mesmo com a faca no pescoço

O urso panda nem sabe que não é urso
Nem dócil nem agressivo, é meio urso bipolar
Se é preto com mancha branca em seu dorso
Ou branco com manchas pretas, sabe-se lá

Pavão é um bicho mestre em exibição
E eu aprendi com ele desde moço
Se o meu poema do bicho não chamar atenção
Eu penduro uma melancia no pescoço

Entretanto, moça, pegue leve com os trajes
Maquiagem e acessórios na hora de ir à rua
Para não sofrer injurias e ultrajes
Sendo rotulada como perua

Aos socos e pontapés, aos trancos e barrancos
Ligo a máquina de fazer versos vis
Alimento os meus exóticos elefantes brancos
Por muitos considerados inúteis

Matar a cobra e mostrar o pau...
Só no modo figurado; Cobra merece festa
Ela escala, nada, salta, desliza e o escambáu
Ela é o verdadeiro exemplo que se arrasta

Cansei de ser um burro de carga comum
Agora eu quero ser um poeta bom pra burro
Abrir caminhos no panicum maximum
Enquanto no caos de versos me empanturro

Eu só quero deitar e rolar...
Tornar-me um poeta bom pra cachorro
Lamber e morder o corpo de uma mulher...
E vacinado! ...que de amor eu não morro

Cansado de tanto nadar, nadar e nadar
Agarrei-me a poesia como um louco
Pois como se diz em um ditado popular
Pra quem está se afogando jacaré é tronco

Outra vez deu zebra em meu poema do bicho
É mais fácil uma vaca sair voando do brejo
Que apostarem alguma coisa em meu lixo
Mas continuarei reciclando... e sem pejo!