Faço
esses versos invocados, indigestos
Carne
de pescoço de casuar, em cores azuis
Aconselháveis
apenas para os onívoros
Com
um estômago de avestruz
Escreverei
algumas verdades sangrentas
Sem
rodeios, esporas e chapéu de couro
Enquanto
monto o olhar por oito segundos
Nas
plêiades na constelação de touro
Fiz
um pedido a um meteoro cadente:
Que
uma gata preta cruze o meu caminho;
Fiz
um poema-de-quatro-quadras, contente
Mas
continuo sem ela, sem sorte, sozinho
O
cavaleiro solitário com o seu cavalo ao lado
Um
pegasus puro sangue de poeta
Canto
o black, o rabo de cavalo, o encaracolado
Que
a amazona do zodíaco ostenta
Ainda
pegarei uma espécie felina:
Entre
leoas, tigresas, linces... uma pantera...
Usarei
poesia como armadilha clandestina
E
acariciá-la como a um bichano, quem me dera
Dos
seus ideais um poeta nunca desiste
É
como um camelo atravessando o deserto
É
como um soldado bravo que não deserta
É
teimoso, firme e resistente – decerto
O
poema é uma ferramenta espetacular
E
é com ele que o poeta cutuca
Pois
como se diz em um ditado popular
Macaco
velho não põe a mão na cumbuca
O
poema é um pé de cabra
Uma
serra, um segredo, uma combinação
Um
grampo de cabelo, um abracadabra
Uma
chave mestra para se abrir coração
Nasci
com o sol no signo de Áries
Representado
por um bravo carneiro
Entre
as composições estrelares
Regido
por Marte e tido como o pioneiro
Nasci
no ano do galo de metal
Vim
para botar ordem no galinheiro
O
mundo é do tamanho do meu quintal
-
Não é fácil ser homem de aço o tempo inteiro
Mas
quem foi que veio primeiro! ...
O
ovo de chocolate ou o coelho da páscoa?
Na
era onde o deus de todos é o dinheiro
A
pergunta que não quer calar ecoa
Calar
o rugido dos reis e mangangões
É
a prova de fé dos profetas
Sair
sem um arranhão da cova dos leões
Bem
como os sábios, filósofos e poetas
Dentro
do restaurante, se der uma veneta
O
poeta apanha e escreve num guardanapo
Qualquer
coisa sobre gravata borboleta
E
as vistosas flores de plástico
Quem
com os porcos se mistura...
Também
comerá farelo;
Quem
com os poetas se aventura...
Também
verá em tudo a figura do belo
O
filhote da águia, imponente e poderosa
É
apenas um filhote playboyzinho
Enquanto
o filhote da galinha d’angola
Mesmo
fraco, nasce fazendo tudo sozinho
Viver
entre feras torna mais difícil
A
vida dos sensitivos veado e corço
Que
nunca se entregam fácil ao sacrifício
Mesmo
com a faca no pescoço
O
urso panda nem sabe que não é urso
Nem
dócil nem agressivo, é meio urso bipolar
Se
é preto com mancha branca em seu dorso
Ou
branco com manchas pretas, sabe-se lá
Pavão
é um bicho mestre em exibição
E
eu aprendi com ele desde moço
Se
o meu poema do bicho não chamar atenção
Eu
penduro uma melancia no pescoço
Entretanto,
moça, pegue leve com os trajes
Maquiagem
e acessórios na hora de ir à rua
Para
não sofrer injurias e ultrajes
Sendo
rotulada como perua
Aos
socos e pontapés, aos trancos e barrancos
Ligo
a máquina de fazer versos vis
Alimento
os meus exóticos elefantes brancos
Por
muitos considerados inúteis
Matar
a cobra e mostrar o pau...
Só
no modo figurado; Cobra merece festa
Ela
escala, nada, salta, desliza e o escambáu
Ela
é o verdadeiro exemplo que se arrasta
Cansei
de ser um burro de carga comum
Agora
eu quero ser um poeta bom pra burro
Abrir
caminhos no panicum maximum
Enquanto
no caos de versos me empanturro
Eu
só quero deitar e rolar...
Tornar-me
um poeta bom pra cachorro
Lamber
e morder o corpo de uma mulher...
E
vacinado! ...que de amor eu não morro
Cansado
de tanto nadar, nadar e nadar
Agarrei-me
a poesia como um louco
Pois
como se diz em um ditado popular
Pra
quem está se afogando jacaré é tronco
Outra
vez deu zebra em meu poema do bicho
É
mais fácil uma vaca sair voando do brejo
Que
apostarem alguma coisa em meu lixo
Mas
continuarei reciclando... e sem pejo!