quinta-feira, 28 de março de 2013

Soneto agourento


Se eu morresse hoje, nem sei o que seria
Todos teriam que fazer uma vaquinha
Conseguir um caixão doado Ou pedir
Dinheiro emprestado dalgum canguinha.

Se eu morresse hoje, sei bem o que seria
Pouco mais que uma boca a menos. Mas
Neinha seria muito triste por culpa minha
Não deixaria nem mesmo filhos pequenos.

Deixaria a conta e um quarto vazio; cama;
Um aparelho de som velho; computador;
Um ventilador e uns poemas vis, amenos.

Se eu morresse hoje, deixaria saudade;
Certeza para uns e duvidas para outros
Sobre a pessoa que eu fui de verdade.

Visitante chato


Morrer de velhice
Eu suponho que seja
Grande chatice

Ditados inversos


Fora da vista, fora da mente;
O que os olhos não veem,
O coração não sente;
Os que não são vistos, não são lembrados.
Por isso faço-me sempre presente, indo
No sentido inverso dos três ditados.

Sossego


Ouvi uma voz me chamar...
 
Peguei a chave e a carteira

Fechei a porta e saí vuado

Fui ali na frente respirar ar puro

Respirei CO2 e fumaça de cigarro

Tomei Guaramix e conversei um pouco

Chega de disse me disse pro meu lado

Não caio mais nesse esparro...

Conto até dez 

Não suficiente, conto até mil!

Quando abrandar eu volto

Antes não, que é barril!

terça-feira, 26 de março de 2013

Separação


Sentado, na Calçada
Tomando uma geladinha
Olho para cima e vejo
O nosso plano inclinado
Olho mais para cima
Então vejo a Liberdade

domingo, 24 de março de 2013

Opiáries


(terça-feira, 9 de abril de 2013)


Parece cocaína, mas é só tristeza
Os nervos à flor da pele, ímpeto
A impressão de que não se é daqui
Quiçá de algum planeta vermelho
Dá uma vontade de virar a mesa.

Eu estou cheio da droga do amor!
O amor deixa-me tonto tonto
Mal escrevo versos de amor
A euforia dá lugar a estiola
Não quero mais amar e pronto!

Carreira de versos sobre o papel
Resiste ao vento vindo da janela
Logo passo a caneta sobre a folha
Desprendo os riscos de palavras
E vou cheirando cada uma delas.

Parecia inofensivo, e me dominou
Vou tragando a vida, e ela a mim
Ajo primeiro e penso depois...
E assim meto os pés pelas mãos
E o carro na frente dos bois.

Carneiro de cabeçada vigorosa
Nunca dispensa uma boa briga
Áries é pugilismo não é yoga
Sentimentos esmurrando razão
Palavras agressivas como droga.

O que não me mata me fortalece
Acendo um cachimbo da guerra
E visto uma armadura de fogo
Que aquece quem está comigo
E queima quem se faz inimigo.

Intrépido senhor dos metais
Que forja a fogo a própria espada
Cercado de Nicotiana e rum
Embriaga-se de bravura e tirania
Afunda na terra e não morre.

Senão nós, a guerra não seria feliz
Viveria a procurar alma corajosa
Paz sem voz não é paz; o que se diz
O medo paralisa as cordas vocais
E overdose de medo é perigosa.

Relação confusa entre Bela e Fera
Misto de medo e fascinação. Seja
Em vida real ou em conto de fadas
Conquista é poder de persuasão
Discussões viram enlevo erótico.

Possuídos pelo fantasma do ópio
Emanam Síndrome de Estocolmo
Com engenhosidade e elequência
São anjos déspotas, autoritários, com
Olhar de suplica, ameaça e adoração.

Estranho anjo do drama; os arianos
Trazem sempre nas mãos a espada
E suas seringas cheias de mágoas
Injetando rebeldia, licenciosidade
Amor e ódio na corrente sanguínea.

Psicodelia poética da minh’alma
Não explica tudo que sinto, mas
Certamente, isso me acalma
Explico todas as cores para cegos
Mas não ouso som de palmas.

Os arianos não mudam de idéia
Os arianos mudam de impulso
Pensamento confunde-se com ação
Crises existências é um perigo
Arrancam orelha, cortam pulso...

Nativos com o girassol em Áries
São esbanjadores de sentimentos
Desesperados, por vezes trágicos
Também representam renascimento
Criação e invenção - quase mágicos.

Tem enorme pulsação pela vida, mas
Sem a verve de cada dia sofre inanição
Eu, ele, nós. Somos assim: andarilhos
Errantes, pedintes por profissão; V o l á
t e i s, viciados pelo êxtase da paixão.

Tinha muitas pedras no caminho
Que nas palavras tornei-me crack
Vadio nas idéias, nobre vagabundo
Ariano torto, vagabundo nato que
Quando não gosta... cospe no prato.

Onde há fumaça há fogo
Mesmo que seja fogo de palha
Fumar a vida causou-me dependência
Afeta os meus neurônios
E entorpece minha inteligência.

Somos cansativos, mas não insípidos
Se estiver com náusea, pede para sair
Com Áries é oito ou é oitenta
Não existe meio termo conosco
Só entra na brincadeira quem aguenta.

Mentiras e hipocrisia desorientam-nos
Apoiamos boas causas e idéias novas
Possuímos sensibilidade artística
Forte senso de justiça, liberdade e
Mente aberta - pouco preconceituosa.

Signo conjugado: eu quero!
Se é para ser que seja agora; já!
Exigente com os outros e consigo...
Sabe mandar como ninguém
Mas prefere fazer do seu jeito.

Espírito altamente competitivo
São ambiciosos por natureza
Querem fama e sucesso no intento
Mas não almejam luxo e riqueza
Apenas poder e reconhecimento.

Habilidosos ladrões de atenção
Chegam botando pra quebrar
Inventam suas tiradas engraçadas
Exalam entusiasmo, espontaneidade
E lançam perfumes no ar.

Seres esquisitos, altamente intuitivos
Viscerais, coléricos às vezes egoístas
Amados e odiados no mesmo motivo
Levam a vida com originalidade
Independência, dedicação e ousadia.

Pessoas ao redor nunca entendem
O sincero nem sempre é grosseiro
Coragem não é imprudência
Autoconfiante não é sobranceiro
E determinação não é só teimosia.

Sou tudo aquilo que faço - fissurado
Dependente léxico crônico
Uso poemas para fazer a cabeça
Mas... não não não. Não quero mais
Ir na contramão; remar contra a maré.

Por hoje basta apenas um cafezinho
Forte e amargo, bem como a vida é
Sonolência eu sempre tive de sobra
Não é a cafeína que me tira o sono
Viver nesse mundo que é uma droga!