domingo, 21 de dezembro de 2014

Espécies especiais


Existe o poeta de um milhão de amigos
E o poeta misantropo.

Existe o poeta de mil mulheres
E o poeta que não come ninguém.

Existe o poeta com mil e uma funções
E o poeta inútil.

Existe o poeta com mestrado, doutorado
E o poeta semi-analfabeto.

Existe o poeta que põe data em seus poemas
E o poeta que nem sabe que dia é hoje!

Existe o poeta que rima poesia com sucesso
E o poeta que rema rema rema e não sai do lugar.

Existe o poeta que espuma feito cachorro louco
E lança centenas de perdigotos na multidão enquanto vocifera
E o poeta que se esconde no meio da selva feito fera.

Existe o poeta que viaja pelo mundo afora
E o poeta que só viaja na maionese.

O que há de comum em todas as espécies?
A sensibilidade que os torna seres especiais.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Segurança ocupacional


Se eu fosse ilustrador
Só desenharia mulheres nuas.
Se eu fosse artista plástico
Só pintaria ou esculpiria mulheres nuas.
Se eu fosse fotógrafo
Só fotografaria mulheres nuas.
Como sou poeta
Só escrevo sobre mulheres bem vestidas,
Pois mulheres nuas têm o costume
De me deixar sem palavras.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A outra metade da maçã


Fiz um pacto com a coruja-diabo:
um poema de sangue
pelo amor daquela mulher...

A coruja-buraqueira me prometeu:
por viver na mesma condição que eu
que estaria comigo pro que der e vier.

A coruja-das-neves me ensinou
a suportar noites em branco
sem o calor de um bem-me-quer.

A coruja-transformer também topou
transformar-se em versos para ela
mas na hora deu migué.

Do alto do campanário uma suindara
assegurou-me bastante oração
ao deus das corujas,

Para que a moça de beleza rara
ao ler meus clichês
arraste suas asas no chão.

Não sou o que quero





Sou o que me ensinaram a ser
Sou o que aprendi a ser
Sou o que consigo ser
Sou o que posso ser
Sou o que tento ser
Sou o que sei ser
Sou o que sei
Sou o que
Sou.