quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Só sei que foi assim


Sou a pessoa mais trabalhadora e também
a mais preguiçosa entre todas as que conheço.

Uma vez eu deitei para dormir numa sexta-feira
e só acordei no domingo à noite.

Teve uma semana que eu trabalhei tão exageradamente
que precisei me apoiar nos ombros de duas pessoas
para conseguir chegar em casa
e levei três dias para conseguir segurar um copo descartável
com água dentro.

Outra vez eu estava trabalhando numa construção
e um garoto de quatorze anos que me via trabalhar
me falou que se eu trabalhasse numa empresa eu iria ser
o funcionário do mês todos os meses.

Sou a pessoa mais feliz, cheia de vida e soturna
ao mesmo tempo.

Uma vez eu fui fotografado com um sorriso largo no rosto
e quando revelaram a fotografia eu aparecia sisudo
com cara de poucos amigos.

Sou a pessoa mais pacífica e mais agressiva e forte
entre todas as que conheço.

Uma vez eu briguei na porta da escola com um pivete boxer que
tinha o triplo da minha altura e o triplo do meu peso
mas, sem conversa
de cima da bicicleta eu dei uma testada no punho dele
e o punho dele ficou sangrando muito
e toda vez que eu o encontrava na rua eu o colocava para correr
atrás de mim.

Depois de dar socos e garrafadas, depois de tomar facadas e tiros
ele foi se encontrar com deus
mas eu juro que desta vez eu não tive nada a ver com isso!

Dizem que sorte financeira é azar no amor.

Uma vez eu precisava de sessenta reais para pagar uma dívida
que venceria no dia seguinte
então, enquanto caminhava, de manhã, eu achei cinco reais no chão
à tarde, em outro lugar, ache mais cinco reais
e à noite eu ache cinquenta reais no meio da rua.

Uma vez eu fui ao forró e lá eu convidei uma moça para dançar
e ela disse não
Para não ficar com a cara no chão, eu convidei a colega dela logo ao lado
e ela disse não
Eu, sem encontrar um buraco no chão
para enfiar a cabeça, convidei a outra colega ao lado
e ela disse não
Sem saída, e já me sentindo um lixo fedorento, eu convidei
a quarta e última colega
e ela disse não.

Sou a pessoa mais burra e mais inteligente que conheço
ao mesmo tempo.

Há seis meses que estou tentando decorar o poema “poema do beco”
de Manuel Bandeira
e deixei de passar num concurso porque errei a questão que
perguntava quanto é dois mais dois.

Uma vez eu fiz um curso e, durante as aulas, a professora me falou que
ela tinha aprendido muito comigo
e, ao final do curso, eu tive que preparar um certificado para ela
com o meu carimbo e assinatura.

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