quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O fantasma da sorveteria


Tenho uma mente nada brilhante
Tenho muitos talentos imaginários
Tenho atenciosos amigos imaginários
Que cuidam bem de mim.

Tenho inimigos imaginários, algozes
Que com fogo amigo me atingem
E me ferem como feras que são.

Tenho namorada imaginária
Apaixonada
Beijo-a na poeira em um monitor
Escuto fotografias, namoro pixels, bits
Escrevo poemas reais para leitores imaginários
Sussurram meu nome
Ouço passos, aplausos e vaias
A todo instante.

Morro de doenças imaginárias
Corro perigos imaginários
E sou curado com o tempo
E sou salvo por quem imagino que sou.

Cresci dentro de uma sorveteria
Que não tem sorvete
Não tem
beijinho
morango
bombom
chocolate
Romeu e Julieta
amendoim
napolitano
abacaxi
abacaxi com vinho
tamarindo
açaí
cupuaçu
ameixa
banana com canela
brigadeiro
chiclete
coco
creme
crocante
damasco
flocos
frutas tropicais
graviola
iogurte com amora
limão
menta
milho verde
negresco
nozes
panetone
passas ao rum...
Ajoelho-me frente às freezers
E perco muito tempo tentando escolher...
Decidir-me entre alternativas que nunca tive
E escolho sempre o sabor que imaginei...

Nenhum comentário:

Postar um comentário