domingo, 12 de abril de 2015

Dor elefante




Nesta páscoa eu estava vendo na televisão uma reportagem que
mostrava pessoas carregando cruzes para sentirem
o mesmo que Jesus sentiu...

Eu acho que elas poderiam procurar o que fazer e talvez
encontrassem uma forma melhor de sentirem
um pouquinho do que Jesus pode ter sentido...

Se você nunca trabalhou até ouvir de um garoto de quinze anos que
se você estivesse trabalhando numa empresa qualquer, você seria toda vez
o funcionário do mês...

Nunca trabalhou até sentir o sol fritar seus miolos
e sair fumaça das suas costas enquanto o suor
por ela escorria...

Nunca usou como esfoliante de pele sacos de farinha cheio de areia ou entulho
nas assaduras das costas
causadas pelo sol...

Nunca trabalhou durante o dia inteiro até a sua garganta se fechar
e a única água disponível, em quilômetros, era água quente da torneira
ou a de um reservatório com larva de mosquito
ou nenhuma...

Nunca trabalhou até os cortes e bolhas que surgiram nos pés ou mãos sangrarem
e você não conseguir segurar nem a toalha
na hora banho...

Nunca trabalhou até os seus joelhos lhe impedirem de andar direito
e você precisar recorrer a ajuda dos próprios braços para subir os degraus
de uma pequena escada...

Nunca trabalhou a ponto de olharem para o seu joelho e lhe perguntarem se você
caiu de moto...

Nunca trabalhou num ambiente insalubre, com produtos químicos,
e nos primeiros dias de trabalho sua arcada dentária esteve tão dolorida
que você não podia mastigar sequer uma banana
ou um pão de hot dog...

Nunca trabalhou até ser expulso do local de trabalho pelo patrão
ou colega...

Nunca trabalhou num lugar sem energia elétrica até o ambiente ficar tão escuro que
você não podia enxergar mais nada a um palmo a sua frente...

Nunca se sentiu obrigado a trabalhar todo molhado,
debaixo da chuva...

Nunca trabalhou voluntariamente por nove ou dez horas consecutivas, sem pausa para almoço, mesmo sabendo que só lhe pagariam por apenas quatro horas de trabalho
e nem 1 centavo a mais, de acordo com o contrato...

Nunca cochilou de cansaço e acordou sobre o seu trabalho
ou cochilou dentro do ônibus e foi parar em outro bairro e teve que voltar andando,
pois estava sem dinheiro...

Nunca teve que andar por quilômetros até o trabalho porque
os motoristas estavam em greve
ou porque precisou gastar o dinheiro do transporte...

Nunca foi roubado no trabalho, teve que pagar todo o valor roubado
e ficou sem receber salário
no fim do mês...

Nunca caiu de sono num mármore gelado, sem ao menos um papelão por perto,
e acordou, todo moído, com o barulho do elevador...

Nunca teve que aturar cachaceiros, fumantes e drogados
durante toda a sua adolescência...  Nunca foi uma criança
que vendia bebidas inclusive a outras crianças...

Nunca teve que equilibrar tachos pesados, com caranguejos e
liquido fervente, numa mão
e bandeja pesada com pratos, copos e garrafas noutra mão...

De tão cansado nunca marretou, fortemente, quatro ou cinco vezes,
na mesma mão, no mesmo dedo,
no mesmo lugar...

Então, se você nunca viveu nenhuma destas situações
ou situações semelhantes a estas
não me venha falar em trabalho duro, nem arrotar seus
méritos e sucessos...

“Cada cachorro que lamba sua caceta...”. Ou melhor,
cada um que carregue a sua cruz!

Eu sempre acreditei que o trabalho danifica o homem.

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