quinta-feira, 11 de julho de 2013

Poema do bicho


Considero um ovo dourado
Cada poema que já compus
Mas não são ovos de galinha
São ovos de avestruz

Escrevo-os para não sofrer
Meus poemas valem ouro
Com eles dou olé nos revés
Tal como toureiro no touro

Procuro compor algo belo
Que também desate nó
Assim mato dois coelhos
Com uma cajadada só

Essa coisa de matar bicho
Eu nunca gostei não!
Mas poeta é assim mesmo
Todo dia mata um leão

Meu estilo é pesado, pois
Escrevo coisas da mente
Que não é um elefante
Mas incomoda muita gente

Corro atrás da felicidade
Como se ela fosse borboleta
Mostro o que vim fazer aqui
Nunca guardo em gaveta

Rumino o passado num deserto
Mas não tenho dom pra camelo
Tenho muita sede de vida
E a levo por um fio de cabelo

Não posso com a vida inteira
Vou vivendo a retalho
Conquistando o meu espaço
Cada macaco em seu galho

Vivo a surpreender quem não
Contava com minha astúcia
Esperam que eu fale de ódio
E eu falo de urso de pelúcia

Tenho uma gatinha parideira
Que se chama poesia
E me dá um trabalho danado
Dando cria quase todo dia!

Três tigres tristes leram
Cada um, três poemas meus
Os três tigres gostaram muito
E a tristeza se escafedeu

Não jogo pérolas pra porco
Que porco não é homem
Jogo colares de poemas e
Só os amigos os consomem

Não tenho medo da solidão
Nasci um cabra macho
E sei que nem toda fruta boa
Dá em penca ou cacho

Nunca chutam cachorro morto
Nunca chutam poeta morto
Mesmo que tenha fracassado
Transformam em gênio um torto

Escrevo em covil de cobras
Em cada obra tento poemicídio
Tenho medo de conseguir...
Mas sei que são ócios do ofídio

Ansiedade é o que me mata
Morro de véspera igual peru
Mas se tiver que ser será meu
Não adianta tanto calundu

Ferir não é o que quero
Humildade é o que eu invejo
Mas quando percebo já é tarde
E a vaca foi pro brejo

Quando um burro escreve
Um homem inteligente nem lê!
Se você, sábio, leu até aqui
Continuarei a escrever...

Todos os dias perco o sono
Mas não conto carneirinhos
Conto minhas histórias em
Poemas até ouvir passarinhos

Tenho muita inveja do galo
Porque ele sabe cantar
E ele tem muita inveja de mim
Porque eu sei voar...

Poema é um cavalo alado
Que invade o seu coração
Como um presente de grego
Causando muita confusão

Voo alto como uma águia, mas
Daqui de baixo que vejo tudo
Se pudesse eu nem falava...
Só escrevia e ficava mudo

“Aparecer para se encontrar”
Nisso o pavão tem mestrado
Ele sabe que o que é bonito
Foi feito para ser mostrado

Homem e homem não dá lobisomem
Mulher e mulher não dá jacaré
Papel e lápis dá poesia
Eu e você - se deus quiser...

Finalmente falarei do veado
Sempre perseguido por feras
Que se acham donas da natureza
E do coração dos outros

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