Algumas
formigas conseguem erguer
o
equivalente a 50 vezes o próprio peso
Cortam
e mastiga folhas o dia inteiro
Elas
trabalham tanto porque não sabem cantar.
Eu
carrego ferro velho e fardos de papelão o dia inteiro
Puxo
carroça debaixo do sol e chuva
O
vira lata, sempre ao lado
passa
por tudo que eu passo sem reclamar
Trabalho
tanto porque no país do futebol e do carnaval
não
sei driblar, nem batucar.
Desde
criança colocaram em minha cabeça que
eu
não sei escrever
E
dizem (vê se podem...) que eu não sei falar
Falar
eu sei
mas
passo por tudo isso calado
porque
ninguém está pronto para me escutar.
Eu
sei ler um pouco
Principalmente
as figuras
Não
criei gosto pela leitura
A
minha vida já é um livro aberto
Mas
quem vai ler as palavras de uma realidade tão dura?
O
dinheiro que me dão, é meu
Com
ele faço o que eu quiser
Também
tenho minhas próprias futilidades
e
meus próprios vícios
Que
não são melhores nem piores que os teus.
Não
fui seduzido pelo crime
Nem
ele quis me tirar do sinal
Com
um pouco mais de disciplina e treino
dariam
mais de cem pra me ver no Circo de Soleil
Aqui,
dão 50 centavos e já acham que deu muito
Ainda
assim, dou graças a Deus pelo que vier.
Tábuas,
paus e madeirites pelo caminho?
Cato
todos; um dia construirei um barraco...
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