quinta-feira, 13 de março de 2014

Deu zebra


Faço esses versos invocados, indigestos
Carne de pescoço de casuar, em cores azuis
Aconselháveis apenas para os onívoros
Com um estômago de avestruz

Escreverei algumas verdades sangrentas
Sem rodeios, esporas e chapéu de couro
Enquanto monto o olhar por oito segundos
Nas plêiades na constelação de touro

Fiz um pedido a um meteoro cadente:
Que uma gata preta cruze o meu caminho;
Fiz um poema-de-quatro-quadras, contente
Mas continuo sem ela, sem sorte, sozinho

O cavaleiro solitário com o seu cavalo ao lado
Um pegasus puro sangue de poeta
Canto o black, o rabo de cavalo, o encaracolado
Que a amazona do zodíaco ostenta

Ainda pegarei uma espécie felina:
Entre leoas, tigresas, linces... uma pantera...
Usarei poesia como armadilha clandestina
E acariciá-la como a um bichano, quem me dera

Dos seus ideais um poeta nunca desiste
É como um camelo atravessando o deserto
É como um soldado bravo que não deserta
É teimoso, firme e resistente – decerto

O poema é uma ferramenta espetacular
E é com ele que o poeta cutuca
Pois como se diz em um ditado popular
Macaco velho não põe a mão na cumbuca

O poema é um pé de cabra
Uma serra, um segredo, uma combinação
Um grampo de cabelo, um abracadabra
Uma chave mestra para se abrir coração

Nasci com o sol no signo de Áries
Representado por um bravo carneiro
Entre as composições estrelares
Regido por Marte e tido como o pioneiro

Nasci no ano do galo de metal
Vim para botar ordem no galinheiro
O mundo é do tamanho do meu quintal
- Não é fácil ser homem de aço o tempo inteiro

Mas quem foi que veio primeiro! ...
O ovo de chocolate ou o coelho da páscoa?
Na era onde o deus de todos é o dinheiro
A pergunta que não quer calar ecoa

Calar o rugido dos reis e mangangões
É a prova de fé dos profetas
Sair sem um arranhão da cova dos leões
Bem como os sábios, filósofos e poetas

Dentro do restaurante, se der uma veneta
O poeta apanha e escreve num guardanapo
Qualquer coisa sobre gravata borboleta
E as vistosas flores de plástico

Quem com os porcos se mistura...
Também comerá farelo;
Quem com os poetas se aventura...
Também verá em tudo a figura do belo

O filhote da águia, imponente e poderosa
É apenas um filhote playboyzinho
Enquanto o filhote da galinha d’angola
Mesmo fraco, nasce fazendo tudo sozinho

Viver entre feras torna mais difícil
A vida dos sensitivos veado e corço
Que nunca se entregam fácil ao sacrifício
Mesmo com a faca no pescoço

O urso panda nem sabe que não é urso
Nem dócil nem agressivo, é meio urso bipolar
Se é preto com mancha branca em seu dorso
Ou branco com manchas pretas, sabe-se lá

Pavão é um bicho mestre em exibição
E eu aprendi com ele desde moço
Se o meu poema do bicho não chamar atenção
Eu penduro uma melancia no pescoço

Entretanto, moça, pegue leve com os trajes
Maquiagem e acessórios na hora de ir à rua
Para não sofrer injurias e ultrajes
Sendo rotulada como perua

Aos socos e pontapés, aos trancos e barrancos
Ligo a máquina de fazer versos vis
Alimento os meus exóticos elefantes brancos
Por muitos considerados inúteis

Matar a cobra e mostrar o pau...
Só no modo figurado; Cobra merece festa
Ela escala, nada, salta, desliza e o escambáu
Ela é o verdadeiro exemplo que se arrasta

Cansei de ser um burro de carga comum
Agora eu quero ser um poeta bom pra burro
Abrir caminhos no panicum maximum
Enquanto no caos de versos me empanturro

Eu só quero deitar e rolar...
Tornar-me um poeta bom pra cachorro
Lamber e morder o corpo de uma mulher...
E vacinado! ...que de amor eu não morro

Cansado de tanto nadar, nadar e nadar
Agarrei-me a poesia como um louco
Pois como se diz em um ditado popular
Pra quem está se afogando jacaré é tronco

Outra vez deu zebra em meu poema do bicho
É mais fácil uma vaca sair voando do brejo
Que apostarem alguma coisa em meu lixo
Mas continuarei reciclando... e sem pejo!

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