sábado, 2 de maio de 2015

Poesia proxêmica



Aprendi a andar no escuro
Detalhes tacêsicos
E o dedinho do pé
apaixona-se pela beira dos móveis
Cafuné
Beijo acidental
no cantinho da boca
Madeixas que me sufocam
Deixo que invadam meu espaço
Que rocem a perna pelos pelos da minha perna
ou seios em meu braço.


Bancos ao ar livre também me roubam o sono
Mictório compartilhado
rouba-me a vontade de urinar
Apenas dentistas me obrigam a abrir a boca
Além da poesia
Vejo pessoas assistindo minhas caspas em um telão
em praça pública
Fico desconfortável com queixos em minhas expostas clavículas
Estou sempre requisitando espaço suficiente
para praticar polichinelo
entre apertos de mão, um abraço
ou um sorriso amarelo.




Cutuco todos com a ponta dos dedos
Eu sei bem qual o meu lugar
Elite é elite; pobre é pobre
Chefe é chefe; subordinado é subordinado
Professor é professor; aluno é aluno
Mulher é mulher; amigo pode ser homem
Até um cachorro doido pode ser o meu melhor amigo
Mulheres nunca!








Na sala de aula, no cinema e na condução

o assento ao meu lado quase sempre é o último a ser ocupado

Vejo cada um em seu quadrado

Concentro-me na cinésica

Todos os meus movimentos são friamente calculados

Infelizmente

fui amaldiçoado com demasiada consciência de cada gesto

O som estrondoso de um saco de pipoca muito me preocupa

Escuto a minha mastigação como ao som de uma orquestra

Barulhos estomacais me deixam aflito

Preocupo-me excessivamente com o hálito

perdigotos

cecê

É impossível ter as mãos e os pensamentos limpos

Fiz da paranoia um triste habito

onde até para engolir a saliva e respirar


em público



preciso constantemente




solicitar-me





permissão.

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