Aprendi a andar no escuro
Detalhes
tacêsicos
E
o dedinho do pé
apaixona-se
pela beira dos móveis
Cafuné
Beijo
acidental
no
cantinho da boca
Madeixas
que me sufocam
Deixo
que invadam meu espaço
Que
rocem a perna pelos pelos da minha perna
ou
seios em meu braço.
Bancos ao ar livre
também me roubam o sono
Mictório compartilhado
rouba-me a vontade de
urinar
Apenas dentistas me
obrigam a abrir a boca
Além da poesia
Vejo pessoas assistindo
minhas caspas em um telão
em praça pública
Fico desconfortável com
queixos em minhas expostas clavículas
Estou sempre
requisitando espaço suficiente
para praticar
polichinelo
entre apertos de mão,
um abraço
ou um sorriso amarelo.
Cutuco todos com a
ponta dos dedos
Eu sei bem qual o meu
lugar
Elite é elite; pobre é
pobre
Chefe é chefe;
subordinado é subordinado
Professor é professor;
aluno é aluno
Mulher é mulher; amigo
pode ser homem
Até um cachorro doido
pode ser o meu melhor amigo
Mulheres nunca!
Na sala de aula, no
cinema e na condução
o assento ao meu lado
quase sempre é o último a ser ocupado
Vejo cada um em seu
quadrado
Concentro-me na
cinésica
Todos os meus
movimentos são friamente calculados
Infelizmente
fui amaldiçoado com demasiada consciência de cada gesto
O som estrondoso de um
saco de pipoca muito me preocupa
Escuto a minha
mastigação como ao som de uma orquestra
Barulhos estomacais me
deixam aflito
Preocupo-me
excessivamente com o hálito
perdigotos
cecê
É impossível ter as
mãos e os pensamentos limpos
Fiz da paranoia um
triste habito
onde até para engolir a
saliva e respirar
em público
preciso constantemente
solicitar-me
permissão.
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