sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ainda mais ingredientes

















Num poema cabe a solidão de quem escreve
E a solidão de quem o lê
Cabe o voo e o vão
Cabe o nado e o nada
Cabe ideias e ideais
Noticias fictícia e noticias e reais.

Cabem alegorias
Cabe o que é pictórico, mas não se enquadra
Cabe o que não se canta, mas encanta
Cabe o que é traço, mas não se alinha
Cabem livros na estante que nunca serão lidos
Ou serão lidos, rápido e por completo
Mas lidos em vão.

Cabem palavras e coisas complicadas
As quais sabemos que talvez nunca iremos usar
(Xis é igual a menos bê
Mais ou menos raiz de bê ao quadrado
Menos quatro vezes a vezes cê
Sobre dois vezes a)
Cabem planos furados, tênis furados
Chinelos com grampos, os sapatos velhos
Girassóis, corvos e campos.

Num poema cabem lutas
E se cabem lutas cabem vitórias ou derrotas
Derrota, derrota, derrota, derrota...
Todas elas podendo indicar
A mesma quantidade de lutas de um vitorioso.

Num poema cabe cri-a-ti-vi-da-de
Nesse estado, em meu país também neva
E deslizamos em bolas de neve
Caímos em massapé movediço
Defeito dominó e defeito borboleta.

Num poema cabe lixo cabe luxo
Cabem magnatas e falsos magnatas
Cabem carrapatos, sanguessugas
E o bicho de pé. Ah, o bicho de pé
Cabem as borboletas no estômago
Cabem os grilos na cabeça
Cabem as pulgas de trás das orelhas...
Num poema cabe qualquer tipo de verve
- Eu disse: VERVE! ...

Num poema não cabe timidez
Deve-se quebrar o gelo
Ou adicioná-lo enxuto com leite de pedra
E pimenta ao desgosto
Cabe o bem-que-não-me-quer
Cabe o bem-que-não-me-viu
Cabe a mulher que passa
E a uva que não passa.

Num poema cabem lembranças, saudade
Desilusões, desespero, desejos
Sonhos que acabam na hora do beijo
E com todos estes e outros ingredientes
Pode-se preparar uma suculenta vida torta.

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