Num poema cabe a solidão de quem escreve
E
a solidão de quem o lê
Cabe
o voo e o vão
Cabe
o nado e o nada
Cabe
ideias e ideais
Noticias
fictícia e noticias e reais.
Cabem
alegorias
Cabe
o que é pictórico, mas não se enquadra
Cabe
o que não se canta, mas encanta
Cabe
o que é traço, mas não se alinha
Cabem
livros na estante que nunca serão lidos
Ou
serão lidos, rápido e por completo
Mas
lidos em vão.
Cabem
palavras e coisas complicadas
As
quais sabemos que talvez nunca iremos usar
(Xis
é igual a menos bê
Mais
ou menos raiz de bê ao quadrado
Menos
quatro vezes a vezes cê
Sobre
dois vezes a)
Cabem
planos furados, tênis furados
Chinelos
com grampos, os sapatos velhos
Girassóis,
corvos e campos.
Num
poema cabem lutas
E
se cabem lutas cabem vitórias ou derrotas
Derrota,
derrota, derrota, derrota...
Todas
elas podendo indicar
A
mesma quantidade de lutas de um vitorioso.
Num
poema cabe cri-a-ti-vi-da-de
Nesse
estado, em meu país também neva
E
deslizamos em bolas de neve
Caímos
em massapé movediço
Defeito
dominó e defeito borboleta.
Num
poema cabe lixo cabe luxo
Cabem
magnatas e falsos magnatas
Cabem
carrapatos, sanguessugas
E
o bicho de pé. Ah, o bicho de pé
Cabem
as borboletas no estômago
Cabem
os grilos na cabeça
Cabem
as pulgas de trás das orelhas...
Num
poema cabe qualquer tipo de verve
-
Eu disse: VERVE! ...
Num
poema não cabe timidez
Deve-se
quebrar o gelo
Ou
adicioná-lo enxuto com leite de pedra
E
pimenta ao desgosto
Cabe
o bem-que-não-me-quer
Cabe
o bem-que-não-me-viu
Cabe
a mulher que passa
E
a uva que não passa.
Num
poema cabem lembranças, saudade
Desilusões,
desespero, desejos
Sonhos
que acabam na hora do beijo
E
com todos estes e outros ingredientes
Pode-se preparar uma suculenta
vida torta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário