Nunca
saí daqui
Desse
bairro, dessa rua
Desse
estado chamado Bahia
Desse
meu mundo chamado lua
Vivo
em Salvador
Mas
não me salvam de mim mesmo
Nem
eu posso
porque
estou preso em minha mente
Lugar
misterioso, escuro, ermo
O
trem só me tira da cidade
Não
me tira de perto de mim
Meus
pensamentos me sequestram
Levam-me
para lugares desconhecidos
De
lá vejo que eu ainda continuo aqui
Parado
eu sempre vou mais longe
Principalmente
quando ando a pensar
Até
as pirâmides de Queops, Quéfren e Miquerinos eu já fui visitar
Não
foram carros, trem ou aviões que me levaram tão longe
Sem
imaginação fértil não há rodas ou asas que me tire deste lugar
Fico
triste porque há lugares no mundo que nunca irei
Como
aqueles bairros ali
Não
há rios, oceanos, montes ou deserto para atravessar
Mas
eu decalco todos os dias meus caminhos exatamente no mesmo lugar
Às
vezes me encontro perdido em lembranças de um passado remoto
Minutos
depois me encontro perambulando num futuro que eu sei que não haverá
Só
não me encontro no presente, pois sempre estou ausente
resolvendo
coisas em outro lugar
O
astronauta usou um foguete
para
descobrir os mistérios do universo
Eu
uso as palavras
em
forma de um cavalo alado
que atende pelo nome
verso
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