sábado, 29 de setembro de 2012

Poema sujo



Você já parou para ouvir o arrulhar das pombas?
É como se sussurrassem poesias
com o seu canto doce.
Coitada destas pobres aves, com face de anjo,
que muitas vezes ajudei a quebrar a casca do ovo.
Já não as criam,
e nem jogam milho para que elas bailem.
Elas nunca foram tão injustiçadas...

Agora são pragas,
temidas
mesmo quando não estão doentes.
Só porque pintam, uma vez ou outra,
a camisa e o cabelo dos transeuntes.
Prefiro elas aos bustos ridículos
de falsos heróis, barões e presidentes
que nada de bom fizeram ou fazem pela gente.

Qualquer gato e cachorro sujo têm
mil advogados a seu favor.
Mas eu amos todos os animais.
Mesmo cobras, morcegos e sapos.
Por isso defendo esse animal sagrado.
Aves tristes e carentes,
que são felizes vivendo, como nenhuma outra,
tão próximas da gente.

São anjos com asas fortes e rápidas.
Reflexos metálicos na plumagem,
como a de um beija-flor ou pavão.
Além de muito elegantes, suas penas também
apresentam grande variação de padrão.

Há muito elas não são sinônimos de paz.
As glórias e esplendor - ficaram tudo pra trás,
quando sobrevoou mares
e voltou à tardinha, trazendo no bico
uma folha verde de oliveira
e esperança para Noé e sua família.

Mais tarde, no rio Jordão,
quando Jesus estava orando, o céu se abriu
e o Espírito Santo desceu sobre ele
na forma de uma pomba.

Habilidosas,
como pombos-correio, deixaram
muitos soldados no chinelo.
Durante a segunda grande guerra
desempenharam atos heróicos.
Ajudaram a salvar a vida de muitas pessoas
e ganharam medalhas de honra ao mérito.

Repugnância é um exagero.
Atribuir meia centena de doença
e nenhum registro de contaminação.
Quem contamina e mata é o próprio homem,
com sua intolerância, indiferença,
imprudência, violência e ganância,
não os pombos, pombas!

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